A greve dos roteiristas e atores de Hollywood, que durou de junho a novembro de 2023, foi um dos maiores movimentos trabalhistas da história da indústria cinematográfica. A paralisação, que envolveu mais de 11 mil roteiristas, teve um impacto significativo na produção de conteúdo audiovisual nos Estados Unidos e no mundo.
Além da ascensão do streaming e a mudança nos modelos de remuneração, a greve dos roteiristas também teve como um dos principais pontos de discórdia a questão da inteligência artificial (IA).
Uso da IA em produções cinematográficas
Os roteiristas e os atores temiam que o avanço da IA pudesse levar à substituição de seu trabalho, já que a tecnologia vem sendo usada em produções. O novo filme da saga de “Indiana Jones”, por exemplo, usou da Inteligência Artificial para rejuvenescer o ator Harrison Ford, assim como “O Irlandês” em 2019.
Em 2023, ainda vimos a Elis Regina cantando com sua filha Maria Rita em um comercial da Volkswagen graças a Inteligência Artificial. Além disso, algumas produções também levantaram problemáticas sobre a tecnologia, como o episódio “A Joan É Péssima” da série de ficção científica Black Mirror.
As preocupações dos roteiristas e atores
Com esses avanços, a preocupação sobre a substituição da força de trabalho dos roteiristas e atores começou a crescer. O Sindicato dos Roteiristas da America (WGA, na sigla em inglês) começou uma paralisação em junho desse ano, reivindicando seus direitos em frente a nova tecnologia.
Em julho, o sindicato de atores e atrizes (SAG-AFTRA) também entrou em greve. Os atores e atrizes exigiam salários mais altos e restrições ao uso da inteligência artificial (IA) no entretenimento.
A presidente do SAG-AFTRA, Fran Drescher, afirmou que era importante criar regras para o setor nesse momento, porque, "no mundo da IA, três meses equivalem a um ano". "Então, se não conseguíssemos essas barricadas, o que seria daqui a três anos? Estaria tão fora do nosso alcance, que sempre estaríamos perseguindo algo, mas nunca acabaríamos conseguindo", destacou.
O acordo que encerrou a greve
Após uma greve de três meses, a Aliança de Produtores de Televisão e Cinema (AMPTP, na sigla em inglês) e o WGA chegaram a um acordo. Por ser um setor que está desenvolvimento, as partes concordaram em se reunir duas vezes por ano para discutir o uso da IA durante os próximos três anos.
O acordo também incluiu novas regras para pagamentos residuais. Os valores referentes à exibição de obras em televisão, cinema e streaming aumentarão entre 3,5% e 5% para o uso de séries de TV e filmes fora dos Estados Unidos. Além disso, um bônus será concedido para as séries mais populares em streaming.
O documento estabelecido com a SAG-AFTRA foi afirmado somente em novembro com aprovação de 86% da diretoria do sindicato. O acordo estabelece regras para a criação, o uso e a alteração de réplicas digitais de artistas. Réplicas digitais são cópias da voz ou da imagem de um artista que podem ser usadas para retratar o artista em imagens ou trilha sonora nas quais o artista não tenha realmente atuado.
Além disso, o acordo também define um novo tipo de ator chamado "artista sintético". Um artista sintético é um ativo criado digitalmente que tem a intenção de criar a impressão de que é um artista natural que não é reconhecível como qualquer artista natural identificável. O documento diz que "as réplicas não devem ser usadas para atender à figuração. As réplicas não serão usadas para evitar a contratação de figurantes".