Criptomoedas

Criptomoedas são totalmente independentes da economia tradicional?

Ativos digitais foram criados para descentralizar sistema financeiro, mas criptoativos ainda sofrem influência

13 SET 2023 • POR Ana Beatriz Rodrigues • 16h06
Foto: Reprodução (Aleksi Raisa/ Unsplash)

As criptomoedas foram criadas com a promessa de serem um sistema financeiro descentralizado, desvinculado das políticas monetárias e regulatórias dos governos. No entanto, ainda que as criptomoedas cumpram parte desse compromisso, elas continuam sujeitas às forças do mercado tradicional. E isso pode acontecer de diversas formas, como o preço do Bitcoin (BTC) pode ser afetado por notícias econômicas, como o anúncio de um aumento nas taxas de juros pelo Federal Reserve System (Fed).

 

Criptomoedas e descentralização da economia

Com a crise econômica de 2008, o Bitcoin surgiu como uma alternativa mais segura para a desordem monetária no sistema financeiro dos Estados Unidos que afetou o mundo inteiro. Nesse contexto, o mercado tradicional começava a gerar desconfiança entre investidores.

 

Esse sentimento generalizado impulsionou o crescimento de uma economia descentralizada com o BTC. Sem depender de uma entidade governamental, as criptomoedas representam uma quebra com uma autoridade central, o que é preciso em negociações com moedas convencionais. 

 

Para Eduardo Ibrahim, especialista em Economia Exponencial na SingularityU Brazil, os criptoativos se tornaram uma “alternativa ao sistema financeiro convencional”. Ele também explica que o Bitcoin pode ser comparado com o Ouro, por não possuir lastro tradicional. Ou seja, não possui uma garantia determinada sobre o valor da moeda.

 

Embora o lastro não seja em um ativo físico, e sim na tecnologia, a dinâmica de emissão, escassez e posse são parecidas e por isso se tornam uma opção de proteção, principalmente em momentos de incerteza econômica”, destacou Ibrahim.

 

Influência da economia tradicional

Mesmo com essa promessa, ainda não é possível separar totalmente o mercado tradicional com o digital. As notícias respingam e influenciam diretamente as negociações dos ativos digitais. Nos Estados Unidos, algumas ligações são ainda mais claras, como stablecoins indexados ao dólar e a influência das entidades sobre a regulamentação das criptomoedas. 

 

No Brasil, essa relação pode ser vista em outras situações. Empresas e bancos brasileiros utilizam a tecnologia blockchain como meio para seus processos de pagamento. Para Ibrahim, essa ligação permite “aumentar a eficiência e diminuir os custos em seus processos de negócio”. Além disso, a implementação do Drex e todo o esforço do Banco Central nesse processo demonstram esse desenvolvimento. 

 

Carlos Akira Sato, especialista em ativos digitais, fintechs, special situations e sócio do escritório Jantalia Advogados, destacou que “conforme a economia tradicional começa a adotar a tecnologia blockchain, a interação das criptomoedas aumenta, e já temos um termo muito utilizado para esse fenômeno,a interoperabilidade”. Sato também ressalta outras relações que tornam a economia tradicional em uma “economia tokenizada”. 

 

É inegável que as criptomoedas são mais utilizadas no mercado financeiro, mercado de capitais, mercado de tecnologia e mercado de games, mas a criação de produtos acessíveis, do ponto de vista de experiência do usuário, torna o cenário de economia tokenizada cada vez mais próximo”, comentou. 

 

Para ele, essa relação traz vantagens ao aumentar “a confiança das pessoas em relação aos ativos” e “favorece a adoção das criptomoedas em todos os setores da economia”. 

 

Por outro lado, o especialista em Economia Exponencial na SingularityU Brazil, Eduardo Ibrahim, analisa que como as criptomoedas podem “ser vistas como ativos de refúgio em momentos de crise, isso tende a resultar em aumento da demanda e, consequentemente, valorização dos ativos”. Mas para ele, ainda é preciso de avanços para os investidores terem uma segurança maior. 

 

No entanto, a falta de mercados maduros e regulados como os que conhecemos também pode tornar as criptomoedas voláteis e sujeitas a correções bruscas quando ocorrem eventos inesperados, trazendo grande risco para os investidores”, destacou Ibrahim.

 

Futuro dessa relação

Ainda não é possível mensurar se a criptomoeda vai se desvencilhar totalmente da economia tradicional, sendo preciso muitos recursos para esse cenário se realizar. Akira Sato diz que “as criptomoedas continuarão independentes e cada vez mais aumentarão a sua interação com a economia tradicional até que o padrão seja uma economia totalmente tokenizada”.

 

Para Ibrahim, seria necessária uma aceitação geral dos pagamentos com criptomoedas para isso acontecer, além de “unidade de conta confiável e uma reserva de valor estável aceita e regulada pelos governos de economias locais”. Entretanto, o especialista em Economia Exponencial na SingularityU Brazil diz que “esse processo exige confiança em tecnologias avançadas e investimento na educação e infraestrutura adequada”.