A Web3 pode ser uma ótima oportunidade para qualquer pessoa alavancar seus produtos, e pode trazer benefícios em vários sentidos, como impulsionar artes NFTs (tokens não fungíveis). Esse é o caso de alguns povos indígenas do Brasil que aproveitaram esse novo universo para mostrar sua cultura por meio do blockchain.
Projetos no Brasil
A partir da tecnologia descentralizada, povos indígenas aproveitam o espaço para trazer sua cultura na Web3, além de proteger suas histórias. Nos últimos anos vários projetos surgiram no Brasil nos últimos anos com esse propósito. Um exemplo deles é a criação da octaEra, plataforma no metaverso que visa trazer conhecimentos sobre os povos originários do país.
O projeto tem em vista fortalecer as causas indígenas e de preservação da Natureza. Segundo o site da octaEra, essa missão agora acontece “com mais força e expansão, assim permitindo que mais pessoas tenham acesso a estes lugares, conhecimentos e experiências”.
Outro caso é o INDIGENA.ART, que apoia artistas indígenas a criarem seus próprios NFTs. A iniciativa é idealizada pelo profissional de TI e ativista de proteção de direitos dos povos indígenas, Elias Oyxabaten, também criador da moeda digital OYX. Oyxabaten diz que viu “a tecnologia é como um mecanismo de defesa e um mecanismo coar mais forte a voz dos povos indígenas para luta”.
A história do projeto começou após as dificuldades enfrentadas por Oyxabaten ao produzir camisetas com estampas. Ele diz que após conhecer a tecnologia, começou a trabalhar com artistas indígenas para mostrar “nosso cotidiano, a nossa vivência, nossas dificuldades e a nossa luta”.
“A gente lançou a nossa galeria para captação de recursos para a gente poder estar executando ações sociais, executando projetos, captando recursos para o nosso povo e assim também buscando a nossa independência financeira. Assim, a gente pode estar desenvolvendo as atividades dentro da nossa comunidade e assim também preservando a nossa ancestralidade”, destacou Oyxabaten.
O INDIGENA.ART visa capacitar artistas com treinamentos sobre esse universo. Após esse suporte, os criadores disponibilizam suas artes à venda na coleção colaborativa do projeto, não havendo necessidade de comissão adicionais. Com as artes publicadas, o projeto também disponibiliza um apoio especializado para compradores e artistas.
O Cinegrafista, Fotografo indígena e idealizador do projeto fotográfico Pamürimasa do INDIGENA.ART, Paulo Desana, afirma que além dos espaços físicos, os virtuais são uma forma desses artistas serem reconhecidos. Para ele, essa divulgação com a tecnologia “faz com que pessoas que trabalham diretamente só no mundo virtual possam conhecer a nossa arte”.
Ele foi para a Web3 com o convite do INDIGENA.ART, mas Desana disse que já tinha curiosidade sobre esse universo antes. O cinegrafista afirma que não sabia como fazer essa migração, então achava melhor ficar nos espaços culturais convencionais.
“Foi bem legal a gente poder ir para esse universo, a qual é uma também, no final das contas, uma forma de divulgar nossa arte”. completou Desana.
Complicações e futuro da parceria
Mesmo com esses avanços, ainda há um preconceito com essa relação. Em julho de 2023, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) proibiu uma empresa de criptomoedas de um acordo com indígenas no Pará. O projeto da empresa Green Forever pretendia converter créditos de carbono em tokens.
Em documento obtido pela Folha de São Paulo, a Funai orientou para que o contrato entre a empresa e os suruís aikewaras, da Terra Indígena Sororó, não continuasse. A organização ainda levantou a preocupação para orientar os indígenas sobre os riscos inerentes” da parceria.
Porém, é possível tirar muitas vantagens dessa união. Oyxabaten aponta que esse mecanismo pode, sim, ser utilizado pelo lado positivo para as comunidades.
“Então eu vi o mecanismo da tecnologia não, como algo que vem acabar com a cultura, mas sim para fortalecer, vem para agregar e ecoar a nossa voz de luta ainda mais para longe no mundo”, destaca.
No site da INDIGENA.ART, o impacto ambiental sobre as NFTs é tratado e o projeto alerta sobre as críticas discutidas sobre o processo de mineração de Bitcoin (BTC). A iniciativa fala que adotou a criptomoeda Ethereum (ETH) para realizar vendas, prezando pela diminuição do consumo de energia.
Oyxabaten também ressalta que essa relação é benéfica para as comunidades indígenas, em um processo de preservação da cultura desses povos. Para ele, com o projeto é possível mostrar a realidade dos indígenas para o mundo e salvar também “a nossa cultura, a nossa linguagem, os nossos cantos, as nossas danças, eternizando nossa vivência dentro do blockchain com a tecnologia”.